sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Música Erudita no Brasil - Parte 1

A vinda de D. João VI em 1808 ao Brasil, trouxe a este pais grandes revelações que se perderam ao longo do século e deu extraordinário impulso a cidade de Minas Gerais e a vida musical. Culpa dos próprios antepassados que na tentativa de manter suas músicas no alge e reconhecidas, faziam negócios com a prefeitura ou governo. Noossa, mesmo em 1900... e alguma coisa os políticos já cobravam absurdos de nós meros "mortais empregados".

Esse período de mudanças iniciou-se em 1750 a 1820. Com influências negras, vermelhas e brancas, a nossa cultura já estava prestes a despontar e a marcar a história de nosso pais. Apartir do séc XVI, durante os dois primeiros séculos de colonização portuguesa, a música no Brasil estava diretamente vinculada à igreja e a catequese. Os franciscanos e sobretudo os jesuítas desempenharam papel importante. A contribuição dos índios à música brasileira foi limitada em comparação a dos africanos. O escravo e seus descendentes tornaram-se personagens significativos no terreno da música. A musicalidade inata do africano o destinava a ser o intérprete ideal e até mesmo o compositor da música no Brasil. E a mesma no período colonial, portanto permaneceu essencialmente portuguesa, apesar de interpretada por mulatos ou negros.

As atividades foram de maior vulto em Salvador e Olinda, embora não se deva desprezar o que ocorria no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Maranhão e no Pará. No séc. XVII começam a surgir as irmandades musicais, sendo a mais importante a de Santa Cecília, cuja a sede estava em Lisboa e que funcionava como um sindicato dos músicos. Os mestres-de-capela representavam também os empresários de atividades musicais, organizando os programas, escolhendo os intérpretes e mantendo virtual  monopólio musical em sua respectiva jurisdição. Somente os sócios da irmandade podiam fazer música e os improvisadores eram sujeitos a multas e até a prisão. As igrejas e as residências da população rica - na cidade ou no campo - tornaram-se pequenas pra tanta atividade musical. Foram então construídas salas de concertos, as quais deu-se o nome pomposo de Casas de Óperas.  O repertório deixava de ter influência medieval e adotava modelos napolitanos da ópera cômica, tão em voga em Lisboa. Alias, o termo "ópera" abrangia comédias e dramas com variada quantidade de música entremeada. O primeiro Manuscrito de autoria de um compositor brasileiro, hoje na Biblioteca Central da Universidade de São Paulo é datado de 1759. 

As atividades musicais no Rio de Janeiro antes de se tornar capital do vice-reinado eram menos importantes do que Minais Gerais, embora já houvesse dois teatros e a atuação da Irmandade nas Igrejas. Minas Gerais constituiu-se p ponto mais alto da música no Brasil. Obviamente o fator econômico foi importante: sem a enorme riqueza vinda da mineração de ouro e diamantes não seria possível reunir a plêiade de músicos que se instalaram em Minas Gerais. No princípio não havia músicos nativos. Quase todos eram mulatos e havia poucos padres-músicos. Os padres seculares atendiam as igrejas que eram constituídas por irmandades de negros, mulatos e brancos, que também tinham arquivos musicais bastante ricos e forneciam música mediante contrato com igrejas e prefeituras. Eram músicos independentes que levavam consigo as partes de músicas para concertos e depois as traziam de volta para casa ou para o arquivo da irmandade. Podemos imaginar o sacrifício que era para escrever todas as partituras a mão, leva-las para o concerto, distribuir aos músicos e depois reuni-las para que pudessem ser levadas novamente para casa ou para  a irmandade. Graças a Deus que inventaram uma máquina chamada xeroz e outra carro. Concordo que seria muito interessante a nossa volta ao tempo para presenciar toda essa iniciação musical, mas também devo declarar que não sei se aguentaria viver sem alguns confortos que a mim é proporcionado. Enfim, reunir tudo aquilo era um grande trabalho... Alguns dos diretores de conjuntos musicais tinham escolas na própria casa, e lá se formavam meninos músicos. Eram verdadeiros conservatórios , nos quais os alunos viviam, se alimentavam e recebiam aulas de música, de latim e de outras matérias essenciais. Esses diretores de conjuntos, ou regentes, tinham muitas responsabilidades, eram bem pagos e muito deles chegaram a gozar de bastante conforto, em casa espaçosas e como proprietários de escravos. Havia muita música nas casas mineiras. Os professores de Arte da Música se apresentavam nos concertos muito bem trajados e com perucas. Curioso é que a música napolitana, de tanto sucesso em Lisboa, parece não haver impressionado o muito no Brasil. Embora os músicos mineiros também interpretassem música de câmara europeia, os compositores se dedicavam quase exclusivamente à música sacra ou litúrgica.  
A igreja não permitia presença feminina nos coros eclesiásticos e os naipes agudos foram formados por meninos (cantando soprano e contralto) e depois pelos CASTRATI. Alessandro Moreschi, o último castrato por volta de 1875 (foto ao lado).  Para quem esta conhecendo a História, Castrati é um cantor masculino cuja extensão vocal corresponde em pleno à das vozes femininas, seja de soprano, mezzo-soprano, ou contralto. Os naipes substituídos não tinham a mesma dramaticidade nem a agilidade na parte dos solistas. Os Castrati vieram preencher essa falha e se tornaram presença obrigatória nas atividades musicais. Os músicos eram divididos em "coro de cima" e " coro de baixo", este formado por capelães cantores responsáveis pelo cantochão, tão estimado ao princípe regente que por vezes ia ouvi-los sem anunciar.    Quando chegou ao Brasil D. João VI encontrou um movimento musical bem modesto e tratou de incentiva-lo, apoiando o padre e mestre-de-capelaJosé Maurício para ativar e fortalecer a Capela Real. Exigiu tanto dele que o padre-mestre  adoeceu de tanto trabalho. Ordenou que a transferência da Capela Real da Igreja do Rosário para a Igreja da Ordem do Carmo, que estava perto do Palácio Real. D. João mandou construir uma espécie de passarela que o levava diretamente do palácio ao convento dos carmelitas e de lá à Capela Real, no outro lado da praça. Isso eliminava a necessidade de atravessar a pé a atual Praça XV de Novembro. Que preguiça, D. João! Passagem exclusiva para ouvir grande concertos, enquanto outros enfrentavam filas enormes em pé. kkkkkkkkk.

Alguns Grandes Compositores da Época


Antônio José da Silva (1705 – 1739), nascido no Rio de Janeiro e cognominado ``o judeu``, fez grande sucesso em Lisboa e no Brasil com seu teatro mordaz e de caráter político. Adaptava trechos de óperas, minuetos, contradanças, modinhas e até lundus. Suas comédias de costumes continham cenas faladas, declamadas ou recitadas, às quais se seguiam árias, duetos, coros e danças. Os temas eram por vezes mitológicos.

José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746 – 1805) nascido em um isolado arraial do Tejuco (hoje Diamantina) tornou-se o maior músico mineiro brasileiro do séc. XVIII. Exerceu a profissão de músico por 20 anos no Arraial de Tejuco. Foi organista da Matriz de Santo Antônio, regente da orquestra da igreja do Carmo, e eventualmente atuava na capela da igreja Mercês dos Pardos. O período em que viveu em Minas teria escrito cerca dde 300 obras, das quais apenas 40 são conhecidas. A maior parte de sua obra não sobreviveu devido decadência do orgão em Minas Gerais no séc. XIX.

Padre José Maurício Nunus Garcia que de 1808 a 1810 dirigiu todas as tividades musicais da brilhante Corte portuguesa no Rio de Janeiro. Nasceu em 22 de setembro de 1867, na rua da Vel, hoje rua Uruguaiana , no Rio de Janeiro. Já compunha regularmente aos 16 anos e sua peça Tota Pulchra es Maria (Toda bela é Maria), a primeira composição está datada de 1783. Dava lições de música, cantava em igrejas tocava em pequenos conjuntos em festas religiosas e profanas. Não possuia piano ou cravo, instrumentos de luxo da época, e utilizava em sua classe violão ou viola-de-arame como meios de ensino. Mas tarde tornaria-se excelente intérprete tanto em cravo quanto em órgão. Foi organista da Capela Real. Era tão grande improvisador que impressionou D. João e seu biógrafo Arauto Luiz.

Bibliografia

- Mariz, Vasco -  A Música no Rio de Janeiro no Tempo de D. João VI/ Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.

- Mariz, Vasco - História da Música no Brasil / Rio de Janeiro: Civilizaçao Brasileira, 1994.

Site de Pesquisa

- http://pt.wikipedia.org/wiki/Castrato

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